sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ainda me lembro de preparar as últimas postagens. Memórias que ficaram. Momentos que maracaram. Dias que não eram mais do que um turbilhão de tudo e mais tudo que não faziam mais que menos sentido. Aqui ficaram gravadas e por muitos testemunhadas lembranças duras, raios partam! eram cruéis aqueles dias sem esperanças. E cá estou a fazer companhia à Lua que nunca me abandonou, e será sempre lua cheia...
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.




José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas