segunda-feira, 21 de maio de 2007


Esta imagem representa milhares de crianças que todos os dias choram, por não terem o carinho, o amor, a ternura, a amizade, a segurança, todos os afectos que as façam sentir fazer parte de um universo, do qual deveriam ser integrantes. Um universo, em que as galáxias são as famílias, em que as estrelas são os pais, os irmãos, os primos, os tios, os avós. Tal como a dispersão das estrelas e dos outros corpos celestes ocorreu pela acção do Big-Bang, também esta criança sente uma “dispersão” da sua família e luta contra esta força, requerendo energias do seu interior e do universo.
A expressão facial e a forma como está vestida, faz-nos recordar milhares de crianças que moram ao abandono e ao relento. Cujas casas têm paredes de vento, os telhados de nuvens, e as janelas, bem… não existem, e as portas,… as portas, parecem estar sempre fechadas.
O seu cabelo loiro acastanhado e a face são reflexos da pobreza. E quem são os culpados? Quem? Os pais? Quem são os seus pais? Ou as políticas governamentais do seu país? Não te sei dizer quem são os culpados… de certo todos nós somos culpados. Quantos de nós já fizeram voluntariado? Quantos de nós já se mobilizaram no sentido de promover campanhas de ajuda aos carenciados? Quantos de nós já participaram nas campanhas de ajuda humanitária? Os cabelos d´oiro sujo, simbolizam isso mesmo, uma riqueza de alguém que poderá ser Homem num futuro que poderemos construir. Por de trás do seu rosto sujo esconde a beleza, a simpatia, a genuinidade cândida e o desejo de crescer e ser… apenas feliz.
As lágrimas esbranquiçadas espelham a pureza do coração de uma criança que sofre por inúmeras razões. As lágrimas parecem sair dos seus profundos olhos azuis, que são o espelho de uma alma triste, perdida, isolada e revoltada num Mundo onde reinam os opulentos, os poderosos, as injustiças que cada vez mais são inexoráveis.
Apesar de tudo, acredito que estas lágrimas que hoje parecem ser de tristeza, amanhã serão de alegria. Aquela face marcada pela dor será amanhã um fácies de felicidade, aquela alma que hoje jaz… amanhã… amanhã renascerá e dará vigor ao corpo que a sustenta e aos que se aproximarem dele.

Autor: João Leonardo Correia Martins

4 comentários:

Anónimo disse...

parabens ao autor deste belissimo texto... todos os dias morrem crianças por falta de algo que poderá ser apenas ternura, e á nossa semelhança, também os governantes ignoram estes factos que são cada vez mais comuns nos nossos dias.

Anónimo disse...

esta criança tá a chorar porque andou à porrada com o filho do Malamen. Um chamou 'ranhoso' ao outro e o outro responde que a mãe dele era gorda. vai daí a bulha, cabelos puxados arranhões, etc

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto! Entre vários temas ligados à poesia vemos uma prosa que tem muito valor. Interessante a descrição em prosa de uma imagem que nos diz muito. A referência a aspectos tão íntimos e tão profundos como a alma de uma criança a contrastar com a infinitude de um universo...belo.
Só gostaria de deixar como sugestão, que a forma como iniciou o texto talvez não seja a melhor...numa próxima oportunidade gostaria de ler mais textos seus, no entanto inovando o modo de início.

Casa do Povo São Roque do Faial disse...

Muito bem!
Não conhecia estes dons do Leonardo. Muitos Parabens.
Embora não perceba de literatura nem de linguística, gostei de ler este texto...

Heliodoro Dória (HD)